Lançados em 1950 e 1951, os dois volumes aqui reunidos marcaram a definitiva maturidade de Mario Quintana como poeta. Ao mesmo tempo, cada um deles relacionava-se com o outro como imagem invertida no espelho. De um lado, a poesia com liberdade de O aprendiz de feiticeiro. De outro, as quadras moralizantes, mas nem por isso moralistas, de Espelho mágico. Atravessando esse dois espelhos, o leitor encontra-se enredado no maravilhoso universo, puramente mental, da essência lírica. Como diz o poeta: “... o divino anseio/ Da beleza suprema...” Com O aprendiz de feiticeiro e Espelho mágico, Mario Quintana mostrava-se senhor seguro do ofício poético. Nesses livros, o aprendiz na verdade virava mestre: de versos, ventos, anjos, canções. No primeiro deles, soltava definitivamente a mão, liberando a imaginação a ponto de incorporar certo clima onírico e mítico, de ressonância surrealista. Já em Espelho mágico, temos exercícios rigorosos de concisão, a serviço da afirmação, sem arrogância, de sabedorias de vida. Em relação aos livros anteriores de Quintana, O aprendiz de feiticeiro traz diversificação formal e temática. Os versos incorporam narratividade, distendem-se, tornam mais flexível a linguagem poética. Espelho mágico é caso interessante na trajetória do poeta, por ser construído à base do pastiche de poesia já existente. Algumas das fontes originais desses poemas são identificadas por Quintana na nota ao final do volume. Outras, porém, como ele próprio confessa, foram retidas “ao acaso da preguiçosa e desconexa leitura de almanaques e revistas”. Nada há, porém, de desconexo nesses dois livros. Ao contrário, deve-se ressaltar o caráter altamente estruturado não só de cada um, como do conjunto total que os dois livros afinal formam.