A concepção poética que preside O auge de minha coragem... está centrada em três buscas incontornáveis. A primeira delas reside no esforço por uma linguagem despojada, precisa, elíptica, que recusa todo o verbalismo, toda a redundância e todas as metáforas altissonantes, a poesia como síntese absoluta da expressão humana. A segunda decorre da percepção da natureza provisória das ideias, das ações e dos sentimentos dos indivíduos, condenados à fatal desintegração, sob o influxo do tempo e das suas circunstâncias, constrangendo o eu-lírico a defrontar-se com a solidão, o vazio e o absurdo da existência. A terceira busca nasce como tentativa de resposta a essa caótica multiplicidade do real e às sombras ameaçadoras da finitude; é quando o eu-lírico — agora convertido em eu-problemático — aponta (e ao mesmo tempo questiona) as alternativas com as quais desafia a intolerável gratuidade da vida. Sua voz ergue-se contra o destino, em nome do amor e, às vezes, apenas do sexo; opõe-se às perdas celebrando a partilha; nega a dissolução evocando a permanência da arte; e vislumbra, em seu ofício de escrita, na seleção e ordenação das palavras, na cerimônia das palavras, em sua consistência e beleza, a possibilidade maior de triunfo do homem sobre a eterna corrosão do transitório. Em O auge de minha coragem... o amor, o desejo, a solidariedade, a arte, e sobretudo as palavras, são as armas de que Celso Gutfreind dispõe não somente para louvar os frêmitos do dia, mas também para combater a angústia da noite.