Criado no final do século XIX, o automóvel revolucionou a economia, as cidades e os modos de viver e representou, como nenhuma outra, o que Marx chamou de “fetichismo da mercadoria”: mais do que carroceria e motor sobre rodas, firmou-se como um signo de velocidade, liberdade e potência. Barthes referiu-se ao automóvel como “a catedral do século XX”. Agora, na terceira década do século XXI, vive uma crise: é visto como excesso da vida urbana, levando grande parte da culpa pela degradação do ambiente. Este livro utiliza os mapas comunicacionais de Martín-Barbero para mostrar como os conceitos de temporalidade, espacialidade, mobilidade e fluxos se modificaram na cultura popular para acompanhar 120 anos de história desse signo. Nesse percurso, empreende-se uma análise crítica do jornalismo automotivo (especializado em carros) como legitimador de uma indústria de desejos e busca examinar o futuro dessa imprensa – plano discursivo a partir do qual os sentidos mutantes do automóvel são aqui relatados. O mundo líquido e repleto de incertezas em Bauman é o ponto de partida e o mundo metamorfoseado em Beck é o ponto de chegada deste livro. Na conclusão, o autor aponta que a indústria automobilística vai insistir na ideia de que o automóvel é um aliado da liberdade humana – agora elétrico, conectado, autônomo e compartilhado. Porém, a sociedade que emerge da urgência climática amplia o conceito de mobilidade, e o automóvel torna-se apenas um elemento dentro de um novo ecossistema.