Este livro investiga as forças que, numa dada sociedade, a nossa, conduzem à uniformidade de pensar, de sentir e de ser. Não consistirá a forma moderna do mal-estar na civilização na submissão ao poder anónimo que essas forças exercem? A exigência de pensar degenera em exigência de conformidade quando o real, assimilado ao racional e ao técnico, tem força de lei. Para captar o banal, que nos invade até naquilo que somos, é necessário, primeiro, isolá-lo enquanto conceito - é este o esforço original aqui empreendido. Depois, trabalhar este conceito a fim de pôr em evidência as deformações que o primado do banal provoca no real: fascinação pela identidade, exclusão do imaginário. Por fim, procurar as modalidades do banal onde a dificuldade é mais extrema: em certos empreendimentos estéticos consecutivos ou paralelos ao surrealismo - como os de Raymond Roussel, Jacques Rigaut, Duchamp, Warhol - onde a criação se tornou uma subjectividade sem sujeito, numa patologia psicossomática que podemos caracterizar, ao mesmo tempo, pelo êxito da adaptação e pelo recalcamento de toda a actividade do sonho, ou ainda numa experiência mística que se desejaria fim de todo o discurso. Através desta investigação atenta e minuciosa de textos ou de casos clínicos, reconheceremos, simultaneamente, a influência exercida pelo banal, o desvio contemporâneo de um imaginário separado das suas raízes subjectivas e a unidade de fenómenos pertencentes a campos tão diversos da experiência humana. De origem egípcia e língua árabe, Sami-Ali vive em Paris desde há 30 anos. É professor Jubilado na Universidade Paris VII (Jussieu), onde criou um laboratório de Psicossomática, e director do Centre International de Psychomatique. Publicou uma dezena de livros nos quais visa, a partir da psicanálise, a constituição da Psicossomática como discipl