O Canto helênico de Sophia em um tempo dividido percorre inicialmente os temas greco-latinos abordados na obra poética de Sophia de Mello Breyner Andresen. O universo mítico que a poetisa portuguesa contempla em sua obra transita pela invocação das musas do Parnaso ou do Hélicon para que lhe proporcione um “belo canto” no mundo moderno, tal qual Hesíodo e Homero fizeram com essas divindades protetoras da poesia, no mundo antigo. As particularidades mitopoéticas na obra de Sophia justificam o título O Canto Helênico de Sophia… da primeira parte deste livro. Todavia, a pluralidade de leitura que a poesia sophiana campeia vai além da ampla e profunda incursão poética sobre a temática clássica greco-latina. Dessa forma, a segunda parte do livro abrange os poemas de Sophia que sugerem uma leitura pelo viés da filosofia e das artes escultóricas sem perder de vista a linha sociológica que procura entender os deslizes da conduta humana sob o peso de uma racionalidade exacerbada. No que concerne à racionalidade, a tela de Francisco de Goya reproduzida nesta contracapa é representativa de uma sociedade que se quer racional e civilizada, mas que soçobrou diante de interesses escusos que solapam o mundo moderno porque entrou em sono profundo e confortável. A tela de Goya e o seu título se traduzem em metalinguagens sobre pesadelos e medos que a humanidade enfrenta ante a letargia que a racionalidade “adormecida” provoca. É precisamente sobre a racionalidade mal conduzida pela humanidade e suas consequências que, a segunda parte deste livro, …em um tempo dividido, versa.
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