Dalton Trevisan, grande mestre da literatura brasileira e vencedor dos principais prêmios literários – como o Prêmio Camões e o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras (ABL) –, e Odilon Moraes, também um mestre, mas do desenho e das cores, unem-se em O ciclista para contar a história de um jovem que, voando em uma bicicleta, desafia o trânsito da cidade. “Curvado no guidão lá vai ele numa chispa”, relata o narrador de O ciclista ao abrir para os leitores a história dessa fugaz personagem. Disparando com sua bicicleta pelo labirinto urbano formado por carros, ônibus e caminhões, o ciclista supera todos os obstáculos. Ou será que não?Antes de ser ilustrado pelo multitalentoso artista Odilon Moraes, o conto que deu origem a esta edição inédita foi retrabalhado pelo autor e republicado algumas vezes ao longo dos anos. “O ciclista” apareceu duas vezes no periódico Gazeta do Povo, nos anos 1950, tanto em forma de reportagem quanto em formato ficcional. Quando, enfim, chegou aos livros, integrou obras célebres do autor, como Desastres do amor (1968), Mistérios de Curitiba (1968) e O beijo na nuca (2014), sempre trazendo um retrato renovado sobre o homem montado no selim e a cidade em que vive.A coragem e a rapidez do ciclista em meio aos perigos urbanos são celebradas pelo narrador, ao passo que a “indesejada das gentes” mantém sua presença sem nenhum abalo: a todo tempo a morte insiste em pedir carona, mesmo diante das recusas daquele a quem importuna, que finge não vê-la. No entanto, ainda que tente ignorá-la, o homem, “indefeso e frágil que é”, fica vulnerável diante do monstro gigante, o caminhão, em seu próprio labirinto, o espaço urbano, e sofre um acidente. Mas os enigmas de Dalton ninguém pode decifrar, e o conto termina envolto em mistério.Segundo Augusto Massi, professor de Literatura Brasileira da Universidade de São Paulo (USP), em um texto que fornece chaves de leitura e dicas para o trabalho em sala de aula, “Dalton embaralha realidade e ficção com maestria”. Massi considera, ainda, que “virando a esquina do século XXI, o conto continua extremamente atual. Do mesmo modo que a moviola de Dalton Trevisan recriou a odisseia do ciclista no espaço de um único dia, o ilustrador Odilon Moraes soube capturar todos os elementos trágicos e líricos num prolongado travelling cinematográfico.” Da combinação da prosa acelerada de Dalton com as ilustrações igualmente ágeis, de Odilon surgiu O ciclista, obra primorosa que tornou a escrita de um de nossos maiores escritores vivos acessível a leitores de todas as idades.