Quando lançado, em 1969, O complexo de Portnoy se tornou best-seller e foi saudado como a consagração definitiva do talento de Philip Roth. A crítica, porém, teve certa dificuldade em classificá-lo. Seria “literatura séria” ou apenas humor? Não era a primeira vez na história do romance que um livro engraçadíssimo parecia uma obra importante; mas havia ao menos dois elementos que causavam estranheza. Em primeiro lugar, o traço caricatural na construção dos personagens lembrava o humor dos grandes comediantes judeus da época, como Lenny Bruce e Woody Allen, que se apresentavam em boates; ao mesmo tempo, porém, a interioridade do narrador-protagonista era de grande densidade. Em segundo lugar, era inegável o desconforto causado pela centralidade do autoerotismo no enredo: o incesto é um tema respeitável desde a tragédia grega, e o homossexualismo ganhava cada vez mais espaço naquele conturbado fim de década em que nada parecia ser proibido - mas masturbação, definitivamente, não era matéria apropriada para um romance com pretensões artísticas.
Nos últimos quarenta anos caíram não apenas os últimos tabus sexuais como também as barreiras entre “arte elevada” e “arte de consumo”. Escritores sofisticados como Thomas Pynchon e John Barth demonstraram que é possível utilizar linguagens pouco nobres para fazer literatura de primeira grandeza. Relendo o livro, agora nesta edição de bolso, constatamos que o humor, a ferocidade e o virtuosismo de Roth permanecem intactos, e podemos mais do que nunca fazer justiça a esta pequena joia literária que é O complexo de Portnoy.