Hannah Arendt é uma das maiores pensadoras políticas de nosso tempo. Tendo sido obrigada a fugir da Alemanha, depois da chegada ao poder de Hitler em 1933, sua obra espelha sua vida atribulada e sua grande preocupação com o mundo no qual vivia. Tendo como referência a experiência totalitária, ela soube explorar as muitas facetas de um tempo marcado pela explosão de violência das guerras e pelas conquistas da ciência e da tecnologia. O livro parte da afirmação de Arendt de que uma das tarefas fundamentais de nossa época é cuidar do mundo no qual vivemos. De maneira ao mesmo tempo clara e erudita, Fábio procura esclarecer o sentido dessa afirmação e seu significado para a compreensão da filosofia da autora. Para tanto, ele explora vários caminhos. Numa primeira vertente, o livro mostra como a filosofia se distanciou da política ao condenar Sócrates e quais foram as consequências desse gesto. Para esclarecer o significado dos conceitos arendtianos, o autor faz uma análise de seus textos fundamentais e procura mostrar de que forma eles se relacionam com a história da filosofia. Nesse sentido, tem importância especial o estudo das raízes fenomenológicas do pensamento de Arendt. Numa segunda vertente, o livro mostra como a experiência totalitária pode ser vista como o extremo do abandono do mundo. Ao destruir a política, regimes como o nazista impedem os homens de construir um terreno comum no qual a vida possa ser vivida em sua plenitude. O caráter inovador das análises de Fábio está em mostrar como o conceito de mundo permite superar o hiato entre filosofia e política, recuperando a dignidade das atividades que fazemos juntos na esfera pública. Ao demostrar a centralidade do conceito de mundo na filosofia arendtiana, o autor nos brinda com uma interpretação lúcida das obras que analisa. Esse livro é uma contribuição valorosa não apenas para os estudos de Arendt, mas para toda a filosofia política brasileira.