O conto do amor inicia com a visita de Carlo Antonini, psicoterapeuta que vive em Nova York, ao convento de Monte Oliveto Maggiore, na Toscana. Ali ele se depara com algo inusitado: a figura do jovem são Bento, pintada em um dos afrescos nas paredes, é parecida com seu pai, que morreu doze anos antes. Isso o remete ao próprio motivo de sua ida à Itália: uma estranha conversa que ambos tiveram pouco antes de o pai morrer, quando este revelou ao filho, em tom de confissão, que em outra vida teria sido ajudante do pintor maneirista Sodoma (1477-1549), justamente o autor daquelas imagens. É o início de uma história cheia de surpresas, envolvendo um caso amoroso em meio à Segunda Guerra e seus desdobramentos da época até o presente.
Contardo Calligaris estréia no romance brincando com certos limites entre a imaginação e a vida real. A exemplo do autor, o protagonista de O conto do amor é psicanalista, atende pacientes em Nova York e teve um pai engajado na resistência antifascista italiana. "O primeiro capítulo, em seus detalhes, é total e fielmente autobiográfico", diz ele. "Nunca soube bem o que fazer com aquela estranha confidência do meu pai na hora de sua morte. Claro, fui para Monte Oliveto e tudo, mas não achei nada. Nada, a não ser uma ficção. E toda ficção é, quem sabe, um pouco isto: um jeito de continuar um diálogo que ficou truncado na realidade."
Não por acaso, a trama nascida dessa inspiração tem como principal tema a busca da identidade. A jornada de Antonini em direção ao passado do pai, levada adiante em arquivos e encontros com personagens de cidades como Milão, Siena, Florença e Paris - além de Monte Oliveto Maggiore, claro -, no fundo é uma grande investigação sobre sua própria origem. Uma trajetória que mimetiza, de certa maneira, um processo psicanalítico de autodescoberta. "Na psicanálise, há um quê de investigação no sentido policial-jornalístico", afirma Calligaris. "Mas o que muda no livro é que a investigação do protagonista é ação e aventura real ."
Ao final desse caminho por vezes tortuoso, que envolve os mistérios por trás da reprodução sem assinatura de uma imagem de Sodoma, de um atentado ao trem Roma-Mônaco nos anos 1970 e de uma noite inesquecível na Toscana narrada nos diários do pai, Antonini se surpreenderá ao perceber que suas descobertas apontam também para o futuro. E que nele ainda há lugar para paixões que podem mudar sua vida.