Na trilha do espantoso O homem-mulher, um dos mais impactantes livros de ficção publicados no Brasil nos últimos anos, Sérgio Sant’Anna volta à forma curta para explorar os labirintos da existência, do amor, da memória e da solidão. Neste que é um de seus trabalhos mais pessoais, Sant’Anna combina lembrança e imaginação para recriar viagens, impressões e momentos únicos que se perderam no tempo. É assim que reconta sua residência artística em Iowa, quando sai do Brasil em meio à ditadura para ter contato com artistas do mundo inteiro, e cujo impacto será sentido décadas após a viagem. Numa prosa viva e moderna, ele retraça os passos do escritor que foi sob a luz do escritor que é agora. O resultado é um caleidoscópio de lembranças que projeta novos significados por toda a obra do autor. Dessa mesma maneira, “Flores brancas” irá rever outro conto, “Eles dois”, do livro O homem-mulher: o que no segundo era uma das mais preciosas descrições do amor na literatura brasileira, aqui será contado a partir de uma espécie de espelho quebrado, cacos de uma relação que se esfacela aos olhos do autor e do leitor. O resultado é uma viagem ficcional turbulenta e dolorosa pela matéria-prima da paixão e dos relacionamentos. Se é a memória que conduz essas histórias, a força está na maneira como a ficção refaz o passado. Lembranças de uma viagem com o irmão, do primeiro cigarro, de mulheres que cruzaram sua vida, tudo isso serve de pretexto para que Sérgio Sant’Anna atravesse com o leitor um caleidoscópio de estilos e vozes tão belo, complexo e múltiplo quanto sua obra. O conto zero e outras histórias traz o grande escritor brasileiro em sua melhor forma.