Em seu livro, O Corpo como Texto: Clara Nunes e a Performance da Fé, Emerson de Paula convida o seu leitor a adentrar no universo do rito, da religiosidade e da fabulação, para, a partir desses lugares de ancestralidade e memória, iluminar as formas de encontro com as corporeidades negras em suas relações com a arte, a vida e a performance. Tudo é mediado com base na obra performativa e fonográfica de Clara Nunes, que se configura como instrumento para que o autor possa discutir sobre o que denomina como encruzilhadas epistemológicas. Dialogando com a pesquisadora Leda Martins, que esclarece que “a cultura negra é o lugar das encruzilhadas”, Emerson examina atentamente a obra de Clara Nunes, focando em sua corporeidade e discutindo como sua tradição religiosa dialoga com o compasso de suas músicas e (escre)vivência. Neste caminho de imersão na obra da cantora-performer, o autor apresenta as noções de corpo x espaço, corpo x traje (no traje que cria o corpo x o corpo que cria o traje) e o corpo x texto, que, em suas palavras, é “aquele que escreve/inscreve palavras visuais, imagens faladas, sons que dançam. É um corpo em diálogo com aquilo que constitui a corporeidade brasileira: a performatividade afro-ameríndia”. Enfim, o livro de Emerson de Paula é fundamental para as novas reflexões sobre as poéticas pretas. Marcos Antônio Alexandre (UFMG/CNPq)