O corpo da imagem. A imagem do corpo. Esse jogo de inversão no título do livro de Emmanuel Alloa é uma tentativa de armar um jogo com as questões histórico-filosóficas para uma análise crítica da imagem e sua relação com o corpo; menos em sua totalidade do que em suas nuances fragmentárias: o olho, o rosto, a perna. O primeiro ensaio intitulado “Corpos estranhos. Fragmentos de uma teoria do intruso” mostra-nos, a partir das imagens de Peter Paul Rubens e Fra Angelico, uma teoria do implante/enxerto no corpo como operação da ordem do intruso. Fica a pergunta: afinal, quem é esse estranho que invade o corpo enfermo, através de uma violenta intrusão e, requer do próprio corpo, incondicional hospitalidade? O segundo texto, “Exorbitâncias. A loucura da visão no último Merleau-Ponty”, permeia a fenomenologia da percepção proposta por Merleau-Ponty e sua relação com o olhar na imagem — ser possuído, arrebatado por ela, ou como o próprio Merleau-Ponty anuncia sobre o quiasma dos olhares: “simultaneamente tomar e ser-tomada”, assim como a pintura de Vermeer guarda um segredo e o expõe apenas para olhos que se entregam a sua exposição. Por fim, “Visão e contra-visão. Máscaras mortuárias segundo Heidegger e Blanchot” encerra essa tríade através do fascínio despertado pelas mascaras mortuárias; uma leitura heideggeriana e blanchotiana que nos indaga, finalmente: até que ponto a imagem se doa não apenas como um meio de observar algo ausente [no caso das máscaras mortuárias], mas também como algo que possui sua própria densidade?