Imagine um pouco de pó azul (esfacelado como purpurina), que de um contato pra outro se espalha e contamina inclusive o que não se vê. Imagine então um motorista de ônibus que em 1987 dirigia uma linha com um fluxo diário de 10.000 almas conectando duas cidades conturbadas - a capital do estado de Goiás e a segunda maior cidade do estado hoje, Aparecida de Goiânia. Este livro é mais uma forma estética de combater o apagamento de uma memória tão trágica, e que é tão simbólica da desgraça crônica brasileira - a irresponsabilidade das autoridades do Estado que sustentam a falta de perspectiva social. Composto por 40 poemas, este volume 08 da coleção cabeça de poeta, série contemporânea (que publica a poesia brasileira em fluxo de produção nos séculos 20 e 21), retrata poeticamente as consequências do acidente radiológico ocorrido com uma cápsula de Césio 137 abandonada; assim, permite ver o azul da pior maneira possível, o azul que não é de mar, não é do céu, não é de vida, senão só e somente um azul de morte. e aqui sabemos, mais uma vez, o quanto a morte pode nos ensinar. e buscar “no palimpsesto da memória” as “dobras em vértice, e horizonte”.