A originalidade desta obra em relação à pesquisa hodierna em curso no âmbito internacional sobre Simone Weil reside, a meu ver, precisamente no fato de a sua autora ter examinado de modo mais cuidadoso e detalhado no seu livro os seguintes aspectos que constituem as partes nas quais o mesmo se divide: o estatuto do corpo na obra weiliana e a transfiguração que sofre o corpo no processo de trabalho (ambas as análises são feitas no âmbito do capítulo dois); o processo de aprendizagem corporal acerca do qual são estudados pela autora quer o fenômeno propriamente perceptivo (tema do diploma de Estudos Superiores de Simone Weil sobre Descartes obtido na École Normale em 1930 e intitulado Science et perception dans Descartes), quer o processo de habituação do corpo que ocorre antes dele pôr-se propriamente em trabalho (o que é investigado no terceiro capítulo) e, por fim, a análise do corpo em trabalho (o que é feito no capítulo quarto). Ao escrever este último capítulo de sua obra Débora Mariz mobiliza de modo sutil e refinado tanto a análise feita por Simone Weil de um conto infantil de Grimm como as tradições da Índia e da China para tentar compreender melhor o significado da espiritualidade relacionada ao trabalho. Além disso, a jovem pesquisadora procura explorar de que modo a visão e o tato são modificados pelo trabalho, bem como analisar certos recursos estilísticos de Simone Weil que recorre, por exemplo, sistematicamente a metáforas alimentares para tentar compreender, por meio de uma analogia com o processo de nutrição física, o processo de nutrição espiritual que ocorre em uma dada sociedade.
Fernando Rey Puente