Traduzido por Sônia Zaghetto O correio é a mais famosa e amada obra dramática do poeta indiano Rabindranath Tagore, prêmio Nobel de Literatura de 1913. Meditação literário-filosófica sobre a morte, na qual a palavra morte jamais aparece, tem profundo caráter simbólico. Originalmente escrita em bengali, no ano de 1912, conta a história de Amal, uma criança gravemente doente e condenada ao confinamento em casa. Amal só se relaciona diretamente com o médico e a família. Todos os demais contatos, com desconhecidos que ele transforma em amigos, ocorrem através de uma janela na qual a criança vê a vastidão do mundo e se comove com as coisas corriqueiras do cotidiano. A elaborada tessitura do texto nos fala de coragem, compaixão e liberdade, e sobre a forma como nos conectamos uns aos outros. É uma ponte entre a casa e o mundo, uma homenagem serena ao completo ciclo da existência. Foi criada pouco depois de Tagore ter enfrentado a morte do filho. Louvada por Gandhi e pelo poeta irlandês William Butler Yeats (pronúncia: iêits), a peça é de uma singeleza enganosa. Os três breves atos são moldura a uma poderosa alegoria espiritual, atemporal e de apelo universal. Foram as características de conforto espiritual e forte emoção transmitidas pelo texto que inspiraram o pediatra e educador judeu polonês Janusz Korczak a encenar O correio com as crianças de sua escola no gueto de Varsóvia no dia 18 de julho de 1942. Korczak queria preparar os órfãos para enfrentarem com coragem e alguma serenidade a morte iminente que os esperava nos campos de concentração nazistas. Influente na sociedade polonesa, Korczak recusou todas as ofertas para abandonar as crianças. Dezoito dias depois de encenar a peça, ele e os órfãos foram conduzidos de trem ao campo de Treblinka, onde foram mortos na câmara de gás.