Este livro explora as representações da morte e dos mortos no imaginário coletivo e literário brasileiro. O estereótipo do país como a terra do samba, do futebol e das praias negligencia um patrimônio cultural mais complexo no qual, desde os tempos coloniais, se cultiva uma relação de proximidade e reciprocidade entre os vivos e os mortos. Robert H. Moser detalha o surgimento de um motivo recorrente na literatura brasileira moderna, a saber, o “defunto carnavalesco”, que, na forma de protagonista ou narrador, volta para implorar, instruir, punir ou mesmo seduzir os vivos. Baseando-se nas obras de conceituados escritores brasileiros como Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis; Incidente em Antares, de Érico Veríssimo; Ópera dos mortos, de Autran Dourado; e Quincas Berro D’água e Dona Flor e seus dois maridos, de Jorge Amado, o autor mostra como o defunto, por meio de seu riso zombeteiro, expõe os pontos de tensão latentes na história social e política brasileira. Ao incorporar elementos tanto de um defensor celestial quanto de um espectro não confiável, o defunto serve de metáfora a um dos maiores dilemas do Brasil moderno: reconciliar o passado com o presente. Por meio de uma estrutura comparativa, o autor justapõe o fantasma literário brasileiro com outros exemplos latino-americanos, caribenhos e norte-americanos. Apresenta também uma abordagem interdisciplinar para compreendermos a complexa relação forjada entre as tradições espirituais e as expressões literárias brasileiras.