O descimento ao Averno, tradução do Livro sexto da Eneida de Virgílio por Adriano Aprigliano, é a segunda obra publicada pela Syrinx Editora. Afortunadamente, um livro-ramo, ouro-cálamo, a se enraizar com justeza na guirlanda poética da tradução de invenção a que se propõe esta casa editora. Nesta descida de Eneias, invenção e rigor pesam em justa medida, dando-nos a ver, para além das peripécias de um herói, o irromper de uma língua, uma sobrelíngua, uma superlíngua portuguesa. Léxico alucinado, sintaxe sagaz, revezes de vozes várias em versos que soam, cantam, dançam sob a batuta mili-métrica de Aprigliano. Por entre imagens, paisagens e personagens do Averno e ao redor, o passo rítmico é o do espaço que o texto extravasa, expandindo-se em sons e assonâncias que deram o outro tom do projeto da edição: a audição. Para enfatizar a sonora potência dos versos, faz parte deste livro o registro sonoro de trechos em latim e português na voz do tradutor, que se escuta por meio de um código QR inserido no livro. Ainda, quase como tradução da tradução, linguaviagens, a cada um dos trechos lidos se junta também a recriação dessa matéria fônica do verbo só em som, pelo compositor Gustavo Bonin, que também assina o texto "Da hipnose métrica". Para arrematar a expansão polifônica, enfim, entre a voz do poema/canto e a voz do poeta/músico, insere-se a distinta voz dum leitor-ouvidor, em timbre, prosódia e pensamento: João Angelo de Oliva Neto, com o texto “Da tradução como dança (ou música?)”, que também faz parte deste volume. Resta dizer que este Descimento ao Averno também dá início à publicação integral da Eneida, que será feita pela Syrinx Editora livro a livro, canto a canto.