Trata-se de desenvolver um conceito trazido por Lacan chamado exatamente “o desejo do analista”, que é um sintagma composto por duas palavras que, ao serem colocadas juntas, constituem um conceito inédito que Lacan propõe para se pensar a passagem do analisante à analista no interior de sua própria análise. Ou seja, a proposta de Lacan é que alguém se torna analista a partir da sua própria análise em um momento preciso chamado de passe. Este é uma passagem para o desejo do analista. É uma passagem de analisante à analista, um momento que Lacan vai esmiuçar e fazer várias propostas que desenvolvemos no nosso livro, esta passagem, o que consideramos o passe clínico. É uma passagem aonde temos vários critérios para se avaliar esta passagem, não precisa ser o momento de um relâmpago, de um ritmo, mas pode ser um tempo em que há a travessia da fantasia, aonde a queda do analista como objeto a, aonde o sujeito pode se experimentar tanto como sujeito quanto como objeto dentro da polaridade da sua fantasia e atravessa-la, que é o que corresponde também a uma destituição subjetiva e, podemos dizer, uma destituição objetiva ou objetal em relação ao objeto que é uma condição fundamental para que ele possa se excercer como psicanalista em seguida. Lacan propõe que nesse momento dito de passe haja a emergência de um desejo novo, calcado na experiência de análise que o sujeito teve, esse desejo novo que se chama desejo do analista, que é desejo se colocar como analista para propiciar a outras pessoas fazerem o seu processo analítica, individual e singular, assim como o analisante o fez para chegar nesse momento. Esse desejo do analista é a condição sine qua non, dentro da teoria lacaniana, para o analista exercer efetivamente o ofício de analista e conduzir as suas análises. O primeiro livro é sobre esse conceito.