No meio psicanalítico, a palavra clínica não para de excitar e de ganhar elogios a despeito do fato de que não existe, na psicanálise, uma descrição clínica que consiga "provar" certa visão teórica em detrimento de outra, e tampouco uma explicação teórica é capaz de "resolver" definitivamente certa situação clínica. Na sua primeira visita ao Brasil, André Green recomendou procurar outra ocupação a quem não pudesse tolerar e conter tamanho desassossego. A autora o escolheu como ?Guia do perplexo? para suas inquietações clínicas, justamente porque Green releva o pensar como a atividade por excelência do analista. O pensamento clínico não é uma reflexão sobre e nem a partir da clínica, mas é a própria clínica nascida no encontro em direção à descoberta dos objetos psicanalíticos. Porém, exercer isso só é possível se formos "pensando com a história" da psicanálise - atravessando, como afirma L. C. Figueiredo (orientador da Talya), os paradigmas existentes na psicanálise. Na intensa e complexa obra de Green, a noção freudiana dos limites, como característica central da vida psíquica, convoca outros autores (Ferenczi, Abraham, Klein, Lacan, Bion, Winnicott) à virada dos anos 1920 na obra de Freud, para compor, no eixo narcísico da vida psíquica, as pulsões e o trabalho do objeto em um aparelho psíquico de duplo limite.