No contexto do processo de transformação selvagem da humanidade e dos atuais modelos sociais, todos tendencialmente totalitários, quão importante é o enraizamento, ou seja, a relação orgânica e vital do homem com seu povo, o seu ambiente e a tradição? “Quem é desenraizado desenraiza, quem é enraizado não desenraiza”, afirma sibilina Simone Weil, apontando o desenraizamento como a mais perigosa doença das sociedades humanas, capaz de multiplicar-se. E é justamente sobre esse conflito essencial entre o que extirpa e a necessidade humana de raízes que se concentra a atenção da filósofa: uma necessidade fundamental, solo fértil essencial para o florescimento de outras necessidades humanas primárias, e uma das mais difíceis de definir, em uma sociedade contemporânea cuja proporção de desenraizamento atingiu um grau tão elevado que transformou esta doença crônica em normalidade. Em um livro extremamente denso e com um ritmo implacável, povoado por centelhas de pensamentos inesperados, a análise de Simone Weil revela o que parece ser o mal do nosso tempo: um processo enlouquecido que transforma a sociedade orgânica em sociedade mecânica, dá ao sentimento de fragmentação o nome de liberdade, e destrói a nossa relação plena com o espaço e o tempo, a nossa história e o ambiente no qual aprofundaríamos as nossas raízes espontaneamente.