José, o narrador, está preso num hospital psiquiátrico e acredita ser filho de um rei. Sua convicção de ser um membro da realeza se baseia numa lógica mental tão rigorosa que marca profundamente todas as pessoas que o rodeiam – pacientes, enfermeiras e até os médicos. José também é um analista. Examina, com uma lucidez impressionante, os casos dos pacientes do hospital: esquizofrenia ou paranoia incurável, mania de perseguição, escatologia, fobia, melancolia suicida, etc. É através desta galeria de personagens que se encontram nos limites da vida, que se abrem os abismos da natureza humana diante dos nossos olhos. Mas José deseja sobretudo ajudar seus companheiros, proporcionar-lhes alegria e inclusive cura. Lucile se apaixona por ele: eles se conheceram (diz ela) na infância, depois se perderam e agora se reencontraram justo ali dentro do hospício. A terapia de grupo racionalmente empreendida por um interno em benefício de todos será coroada pela "festa dos loucos", em que José será rei. Ao fim do cerimonial, alguém se oferece em sacrifício. Então, no cúmulo do desespero e nas trevas da loucura, há tal sagacidade de percepções que se termina por reafirmar, finalmente, a luminosidade da condição humana.