Milão e Florença representam dois dos centros de atualização com os quais os modernistas brasileiros dialogam ativamente, a partir de 1920-1921, quando os jovens artistas e intelectuais de São Paulo começam a atacar o status quo e se apropriam de um termo problemático, futurismo, que enfeixava todas as negatividades que a crítica passadista imputava à arte moderna. O surgimento do futurismo paulista é conseqüência desse clima, que levará o grupo modernista a se apresentar espetacularmente perante a opinião pública através da Semana de Arte Moderna, em grande parte vazada nas propostas de Marinetti. A questão não se esgota, porém, em fevereiro de 1922. Tangências com o movimento italiano podem ser encontradas também em Klaxon, na Revista de Antropofagia, entre outros, e apresentam uma viva expressão no evento constituído pela viagem de Marinetti ao Brasil em 1926 e pelo amplo debate que então se deflagrou sobre o significado e os alcances do modernismo. Passando em revista todos esses aspectos à luz de critérios do pensamento crítico de hoje e com sólido embasamento histórico, Annateresa Fabris mostra em O Futurismo Paulista que a constituição do ideário moderno brasileiro não podia ser pensada sem um diálogo ativo com a proposta futurista, diálogo que termina no começo dos anos 30 quando se impõe uma outra idéia de modernidade, que coloca no centro de atenção o homem social brasileiro.