Em 8 de janeiro de 2023, uma multidão vestida de amarelo tomou conta de Brasília numa manifestação violenta e antidemocrática, em tudo diversa do que pregava o manifesto de mais quarenta anos antes que dá título a este livro. Em 1984, durante a ditadura militar, um documento produzido pela classe artística desfraldava a luta pelo voto direito para presidente e declarava o desejo da sociedade de “usar o amarelo das flores sem medo, o girassol amarelo que nos guia, tinge e alimenta”. A metáfora captava o anseio daqueles que, saindo às ruas em busca da democracia, inauguraram a maior manifestação popular do Brasil: as Diretas Já.
Diversos acontecimentos convergiram para a eclosão do movimento, tais como a insatisfação com o regime militar e com a economia, a influência da redemocratização na Argentina e a proposta de emenda constitucional do deputado Dante de Oliveira, de março de 1983. Esses aspectos criaram as condições sociais que culminaram na campanha das Diretas Já, que ao longo de um ano tomou as principais cidades do país.
Às vésperas dos quarenta anos do movimento, o jornalista Oscar Pilagallo analisa o curso histórico de tais acontecimentos, mostrando como a vontade de votar para presidente estava nas mais diversas esferas da sociedade civil. Pilagallo enfoca, em tom de crônica, os principais atores envolvidos, reconstituindo a contribuição de políticos, músicos, artistas, estudantes, jornalistas, publicitários e atletas, muitos dos quais atuantes em nossa vida pública até hoje.
Com uma linguagem leve, Pilagallo apresenta um painel histórico que vai da formação da convergência democrática à derrocada dos militares. Entremeando análise política e episódios anedóticos — quase inéditos de tão esquecidos —, a narrativa prende a atenção dos leitores que não vivenciaram o período e refresca a memória de quem participou da festa cívica. O livro traz ainda fotografias da época, além de uma cronologia e apêndices informativos sobre a carreira posterior dos protagonistas. Embora haja quem diga que as Diretas Já não foram bem-sucedidas em seu propósito, O girassol que nos tinge argumenta que as praças coalhadas de gente garantiram a participação popular no processo que pôs fim a duas décadas de ditadura.