A tônica deste livro é a discussão sobre o herói. Para o autor, os heróis clássicos são heróis da classe alta, que procuram demonstrar a "classe" dessa classe. "Classificar" a tragédia e a epopeia como gêneros maiores e ver nos seus heróis apenas o elevado seria desconhecer uma diferença básica entre o herói épico e o herói trágico, bem como uma dinâmica estrutural que se manifesta nas "grandes obras". Ainda que passe por grandes dificuldades e provações, e ainda que venha a constituir boa parte de sua grandeza através de uma série de "baixezas" (matar, mentir, tripudiar cadáveres, enganar e mentir), a narrativa épica clássica, adotando o ponto de vista do herói, trata de metamorfosear a negatividade em positividade, e o herói épico tem, por isso, um percurso fundamentalmente mais pelo elevado do que o herói trágico, cujo percurso é o da queda, da perda de poder. Mas a queda do herói trágico é o que lhe possibilita resplandecer em sua grandeza, assim como as "baixezas" do herói épico é que o "elevam". Kothe reitera que o herói épico e o herói trágico unem em si e em seu percurso as duas pontas do alto e do baixo. Aquiles, o grande guerreiro, é humilhado por Agamêmnon, perde a sua escrava preferida, perde o seu melhor amigo, fica ausente de muitas lutas e se barbariza ao tripudiar o cadáver de Heitor; Odisseu, o astuto, vencedor de Tróia, demora a descobrir o caminho de volta, perde todos os companheiros e troféus nesse percurso, para se recuperar no fim; Édipo, rei ebenfeitor, vê-se transformado em malfeitor e pária social.