Quando, na década de 1970, precisamente de 1972 a 1975, trabalhei com o ensino de literatura lusitana, indiscutivelmente desenvolvi uma paixão especial pela obra de Fernando Pessoa.Em vários momentos me vi identificado com a essência da forma de ser epensar de cada um de seus heterônimos.Nasci no interior e morei na roça por um bom tempo. Dada a simplicidade e forma raiz de ser da primeira fase de minha existência, vesti-me naturalmente e sem me dar conta de um Alberto Caeiro, guardando rebanhossem nunca os haver tido.Vindo para a cidade grande, envolvi-me logo com o ensino de língua portuguesa e literaturas brasileira e lusitana, mais desta do que daquela.Nesse período, experimentei muito de todos os anjos ou demônios de Ricardo Reis.Depois de árduas batalhas para conquistar meu espaço neste mundão demeu Deus, não tive como fugir da introspecção e de certo pessimismooriundo dos fundos da tabacaria de Álvaro de Campos.Assim, minha vida foi marcada por inúmeros dos desassossegos de Bernardo Soares. Mas para ser grande, ser inteiro, sempre procurei ser todo em cada coisa, fugindo da ideia de não ser nada, nunca ser nada, procurando sempre ser a alma grande, secreta e inquieta desse meu idolo de além-mar. E com um espírito leve, muito leve, como um vento muito leve que passa, procuro lavar- me sempre com as águas limpas do riacho de minh',alma, maior e mais livre que toda a grandeza do Tejo,também menor que o rio que corria pela aldeia do inesquecivel Fernando Pessoa.Mário Vasconcelos