Ao tomar o trem, pensei: “Vou agora me encontrar com o mundo. Ignoro tudo, por assim dizer, mas uma vida nova começou para mim”. Tomei a resolução de fazer a minha tarefa resoluta e honestamente. Deve ser duro e difícil viver no mundo. Em primeiro lugar, resolvi ser cortês e sincero com todo o mundo. “Ninguém deve esperar mais do que isso, de mim. Talvez aqui também me olhem como uma criança; não faz mal”. Todo o mundo me toma por um idiota e isso também pela mesma razão. Outrora estive tão doente que realmente parecia um idiota. Mas posso eu ser idiota, agora, se me sinto apto a ver, por mim próprio, que todo o mundo me toma por um idiota? Quando cheguei, pensei: “Bem sei que me tomam por um idiota; todavia tenho discernimento e eles não se dão conta disso!…”.Considerado um dos maiores clássicos da literatura russa do século XIX e o mais pessoal dos principais romances de Dostoiévski, O idiota narra a história do jovem Príncipe Míchkin, que, após vários anos em um sanatório na Suíça, regressa à Rússia e se depara com um mundo atolado na indolência material cotidiana. Míchkin, tentativa dostoievskiana de “criar a imagem do homem positivamente bom”, se aproxima da personificação mais extremada do ideal cristão de amor que a humanidade em sua forma atual pode alcançar, mas ainda assim dividida pelo conflito entre os imperativos contraditórios de suas aspirações apocalípticas e suas limitações terrenas. A série de eventos e paixões causadas pelo mundano Rogójin e pela bela Nastássia mostram como um homem puro se torna um idiota, um inadaptado em uma sociedade de valores corrompidos.