“A vida pode não ter sentido, mas certamente tem prêmios”. Assim o ex-poeta Max Strasser, protagonista desse romance, inicia sua narrativa. Através dele, Jair Ferreira dos Santos exercita, em sua estreia como romancista, o poder de síntese (a faca serena), o humor cáustico, as imagens surpreendentes e o rigor intelectual que o consagraram como poeta, contista e ensaísta. O resultado é uma linguagem singular na ficção longa que deixa o leitor primeiro atordoado, depois maravilhado. Com as cinzas do pai na bagagem, Max parte de São Paulo para sua cidade natal, numa espécie de retorno inconsciente ao ponto de partida. Entre uma paixão devastadora do passado e as incertezas do futuro, é levado a rever sua própria trajetória, e ela se mistura à de um país que aos tropeções persegue e é perseguido por seus mitos de modernidade. Junto com a história de Max, vai se desenhando o retrato de uma parte do Brasil contemporâneo muito pouco explorada pela nossa literatura. A trama se passa em 2011, no interior do Paraná, em Monte Castelo, uma cidade fictícia de uns 50 mil habitantes turbinada pelo dinheiro do agronegócio. Enquanto lida com seus fantasmas, Max faz a crônica da cidade. Mas a história vai muito além desse espaço e desse tempo. Podemos localizar sua origem numa tarde remota de 1939, quando o jovem que anos depois viria a ser o pai Max viu o Graf Zeppelin cruzar os céus da Baía de Guanabara com os motores em marcha lenta, “um acontecimento tão empolgante e inefável que não ficava apenas no prodígio tecnológico: vinha como um chamado para que se pensasse grande, se imaginasse o futuro na escala monumental da sua elipse reverberando sobre o mar”.
[João Paulo Vaz]