O que vamos encontrar em nossa leitura, é um livro com exposição de ideias ordenadas de forma clara, didáticas e diretas. A apresentação dos principais conceitos dos autores objetos da pesquisa, Stuart Mill e Norberto Bobbio, é feita de maneira desapaixonada, sem o objetivo de levar seu leitor a adesão retórica de seus ideais, mas, ao contrário, demonstrando racionalmente os aspectos válidos de ambos os pensadores.
Seria errôneo tratar o termo liberalismo como um conceito unívoco, uma vez que essa palavra é utilizada para tratar das ideias de autores que vão de Locke a Rousseau, ou Kant, de Keynes a Hayek, por exemplo. Temos a regionalização do termo, pois, um pouco de estudo, nos leva a entender que, o que se entende por liberal na Europa, – termo entendido naquele continente, em geral, em seu aspecto político e econômico –, não é mesmo que se entende no EUA ou no Brasil. Nos EUA, o termo está ligado ao chamado liberalismo de costumes, porém ao progressismo econômico; e no Brasil, o termo foi, e ainda é, utilizados por alguns, em um aspecto reducionista, meramente econômico para qual, na tradição liberal europeia, Benedetto Croce criou o termo liberista – ou seja, um liberalismo de mercado, porém desprovidos de seus aspectos sociais. Destarte, só é possível entender o que de fato é o liberalismo, como corrente de pensamento, se entendermos sua história e seus multifacetados movimentos.
A presente obra traz uma gama de pertinentes contribuições teóricas para o cenário intelectual brasileiro, aprofundando a compreensão sobre o liberalismo social e sobre as contribuições filosóficas de John Stuart Mill e Norberto Bobbio para a filosofia política. Mas, sobretudo, o autor nos oferece, num momento de grave cisão política em nosso país, um sinal de esperança ao defender que liberalismo e socialismo não são incompatíveis, e que sua síntese, variável segundo as circunstâncias reais, depende apenas da disposição intelectual para a razão e o diálogo entre os envolvidos.