Este título da coleção Jornalismo Literário apresenta ao leitor brasileiro uma pequena amostra da arte de escrever obituários. O livro das vidas reúne uma seleção de textos publicados na seção de obituários do New York Times, com ênfase nas histórias de pessoas comuns, cujas vidas ganham outra dimensão ao serem descritas com o olhar curioso e afetuoso dos repórteres do diário americano.
Em detalhado posfácio que acompanha o volume, Matinas Suzuki Jr., coordenador da coleção Jornalismo Literário, mostra como a seção de obituários foi ganhando importância nos jornais americanos e ingleses ao longo das últimas quatro décadas. Suzuki relembra a trajetória de Alden Whitman, imortalizado por Gay Talese como o Sr. Má Notícia (em perfil incluído na coletânea Fama & anonimato), que deu novo impulso a este tipo de texto ao entrevistar figuras famosas com o objetivo declarado de recolher informações para os seus futuros obituários. "A seção de obituários do Times é uma cerimônia de adeus diária de bom jornalismo e uma das campeãs de leitura do jornal mais influente do mundo. Há quem pense que a valorização do obituário pela imprensa de língua inglesa seja um ritual de morbidez, mas isso é uma falsa impressão", escreve Suzuki.
Para além dos "mortos ilustres", esta coletânea mostra como a seção de obituários pode alcançar grandes momentos ao descrever, com humor, ironia e notável poder de síntese, histórias de pessoas que dificilmente freqüentariam as páginas dos jornais. Gente como Angelo Zuccotti, o sujeito que cuidava da porta de El Marocco, famosa boate nova-iorquina, e que considerava sua atividade uma arte. Ou Anton Rosenberg, amigo dos beatniks Jack Kerouac e Allen Ginsberg, que tinha uma atitude tão cool e uma despreocupação e indiferença tão grandes que "nunca chegou muito a nada".
Entre os autores dos obituários desta coletânea, um merece atenção especial: Robert McG. Thomas Jr., que levou ao requinte literário a tarefa de sintetizar a vida dos personagens em uma única frase, a primeira do texto. Autor de 657 obits - ou McGs, como ficaram conhecidos - no New York Times, morto aos sessenta anos, tornou-se ele próprio personagem de um texto nesta coletânea.