O lugar do público não é uma questão nova em cultura e arte. Desde sempre, artistas e os que pagavam para que existisse arte (a cultura existe por si mesma, quase) queriam saber se uma obra iria agradar, alcançar seus objetivos. As respostas que encontravam eram mais imediatas e intuitivas, menos sofisticadas (lembrar que sofisticado quer dizer também falso, enganoso, artificioso) que as de hoje. Mais tarde, por um lado, deixou-se de acreditar no valor intrínseco da arte e da cultura, que não mais comovem por si mesmas os que decidem sobre ela, por outro, os instrumentos de investigação tornaram-se mais complexos e sofisticados (ou sofisticados ), terceiro, a ideia de democratização da cultura e da arte deslocou para o foco do público uma reflexão (ou política) antes voltada para o produtor, o artista. E quarto, mais relevante, transformações tecnológicas alteraram radicalmente cultura e arte bem como seu público, seus criadores e seu lugar na sociedade.Este livro oferece uma visão de conjunto dos rumos desta disciplina que responde pelo nome de estudos de público , do que se fazer para desenvolvê-la e, também, de modo indireto, de como evitar os excessos visíveis no interior desse território de investigação que corre o risco de tornar-se autônomo e desligado das preocupações reais dos criadores e dos destinatários da cultura e da arte.As linhas de pesquisa propositivas e positivas emergem aqui ao redor de cinco eixos: 1) a cultura como componente de uma economia e uma sociedade em movimento , sem referentes fixos, 2) a mudança nos modos de consumo de cultura e arte, 3) o novo papel simbólico da cultura e da arte, 4) os novos rumos da produção, difusão e mercado da cultura, 5) as possibilidades de planejamento da cultura e da arte.E ao lado delas, como marcas d’água de sinal contrário, as ideias que configuram as armadilhas criadas pelos estudos de público para si mesmos, a cultura e a arte: 1) a tecnocratização da política cultural e, portanto, da cultura e da arte, 2) a ideia de que o consumo da cultura e da arte pode ser medido por índices, 3) a ideia de que mais estudos estatísticos e sociológicos levarão ao perfeito equacionamento do problema da cultura , 4) a utopia de que uma instituição cultural pode ser orientada a cumprir mais democraticamente seu papel graças ao seccionamento dos conjuntos da cultura e da arte e, em especial, de seus públicos (o local, o regional, o nacional, o de gênero , o das crenças religiosas, o das etnias...), 5) a crença de que as pessoas procuram coisas específicas em cultura e arte e que essas coisas podem ser identificadas, quantificadas e fornecidas. A noção de um resto cultural imponderável, essencial à cultura e mais ainda à arte, virou anátema. Há no ar uma clara ansiedade diante da cultura e da arte manifesta na pergunta o que fazer com ela? . A leitura deste livro na sua mão (naquilo para o que aponta) e na sua contramão (naquilo que corre por baixo dele e em sentido contrário) pode abreviar caminhos e contornar equívocos.