O medo à espreita investiga a obra-prima de Cornélio Penna, o romance A menina morta, com especial atenção às representações do medo durante a história. A aventura crítica pelos livros do autor fluminense, desconhecido de parte do grande público, é uma tarefa de fôlego, como reconhecem leitores e leitoras. O professor e pesquisador Luiz Eduardo Andrade é um estudioso da obra corneliana e, neste livro, elabora seu pensamento no sentido de entender como o medo pode ser uma ferramenta estética presente na construção da narrativa. Partindo da premissa de que há traços barrocos na escrita de Cornélio Penna, o estudo demonstra como A menina morta é um romance organizado em torno de labirintos nos quais o medo de se perder ou de ser encontrado potencializa, dentre os conflitos acerca do apagamento da memória, afetos como angústia, insegurança, culpa, ressentimento, inveja. À espreita estão aqueles que provocam ou fogem do mal. Nunca se sabe exatamente qual papel cada personagem está desempenhando. Os labirintos são dobras e desdobras que se mostram em dois planos: no espaço da casa-grande, com sua arquitetura gigante e confusa, símbolo da experiência de aprisionamento; nas micronarrativas de mulheres negras, algumas escravizadas, cuja potência da oralidade elucida a memória que se tenta apagar. Dessa forma, essas mulheres, mas não só, colaboram para a ruína do sistema quando, por meio de narrativas em claro-escuro, expõem o horror da violência promovida pelo regime patriarcal-escravocrata. O livro é indicado a quem se interessa pelos estudos de literatura comparada, sobretudo pelas representações do mal na literatura e pelos estudos da memória.