O MENINO E O RIO GUAMÁ

Quando se é criança, a noção de risco pode vir de maneira brusca, repentina como um raio, já que, apesar de ter todo um futuro pela frente, cada garoto parece pensar apenas no imediato, no prazer que a brincadeira ou a aventura irá proporcionar; o risco, quando considerado, parece existir apenas para o outro, nunca para si mesmo. O amanhã dificilmente está a mais de vinte e quatro horas e o passado tem que ser muito marcante para ser recordado. Tendo ido para o outro lado do rio, sem o conhecimento da mãe, estava um dia bem agradável e a maré foi enchendo, tendo subido bastante sem que ninguém se importasse com o alagamento do terreno ao redor da casa. Por não conhecermos bem a região, eu e Nonato, este um rapaz de quinze anos, fomos andando com a água acima dos tornozelos, quando, subitamente, o chão desapareceu à minha frente; despenquei, então, para as profundezas do rio. Por algum reflexo, prendi a respiração e, olhos abertos pelo pavor do susto, via apenas uma luminosidade amarelo-alaranjada dentro da água; voltei à superfície e afundei novamente...