Historicamente, o pensamento liberal conseguiu avançar com bastante êxito sobre as formas como a ecologia se projetou nas ações estatais. Por meio de diferentes agentes ideólogos do capitalismo (principalmente sociedades científicas e ONGs), se engendrou a noção hegemônica de que há uma natureza selvagem, que deve ser preservada dos seres humanos que, por sua vez, teriam um caráter destrutivo intrínseco.
Com base nessa elaboração, tendo como marco inaugural o Parque Yellowstone, nos EUA, foram produzidas décadas de legislações e políticas públicas nacionais e internacionais em todas as partes do planeta, que aparentavam boas intenções, mas tiveram como consequência a expulsão de diversos povos de seus territórios, o apagamento de saberes tradicionais e a desarticulação de redes de convivência harmônicas e realmente sustentáveis com a natureza.
Essa hegemonia, no entanto, gerou profundas contradições. Por um lado, jamais resolveu a questão ecológica mundial – ao contrário, apenas tem servido para aprofundá-la. Por outro, a dinâmica da luta de classes nos territórios gradualmente permitiu o reencontro entre marxismo e ecologia.
Para contribuir com essa construção da perspectiva ecológica popular, a Expressão Popular insere na sua coleção Ecologia Marxista uma das principais obras brasileiras sobre a questão ecológica: O mito moderno da natureza intocada. Com rigorosidade científica e escrita didática, o professor Diegues permite aqui uma compreensão histórica das bases do preservacionismo, revisita categorias ecológicas e sociais e apresenta a contraposição de projetos, lançando uma nova visão sobre a história ambiental brasileira. Com compromisso histórico, demonstra como os povos e comunidades tradicionais construíram uma perspectiva ecológica popular em nosso país.