Este livro tem em seu título o vocábulo trabalho. Ah, esse termo tão comum, corriqueiro, cotidiano, debatido, confundido, difundido, guerreado; alegria de uns, tristeza de outros.
No sistema capitalista, o trabalho pode significar a dignidade da pessoa que tem apenas a si para oferecer enquanto força produtiva, a fim de angariar algum valor em contraprestação.
Normalmente, o trabalho é imediatamente vinculado ao seu aspecto econômico, tratado como instrumento mediador do atendimento de necessidades básicas e de geração de renda ou riqueza. Mas também possui seu viés filosófico, enquanto formador e conformador de consciências, realidades e relações.
O conceito de trabalho em Hegel, a propósito, se dá a partir do problema específico do sistema de carecimentos. Ele exercita função precípua para a solução de problemas de ordem econômica; mas, para além disso, não recusa uma dimensão formadora que transcende o âmbito das relações de produção (HEGEL, 2010). O trabalho surge na vida de uma pessoa muito cedo. Pra ela nascer, a mãe deve entrar em trabalho de parto. A mãe depois costuma reclamar: essa criança dá muito trabalho. Desde a infância, a criança tem tarefas escolares a realizar, como deveres de casa, maquetes, pesquisas, registros fotográficos. Este mesmo trabalho que desafia reclamações por parte dos pequenos, traz em si o condão de permitir às crianças que tomem conhecimento do mundo, aprendam a ler, a escrever, a compreender, a criticar e a se desenvolverem. E, ainda, trabalho pode expressar um ritual religioso, que na umbanda, no candomblé e na kimbanda busca atingir objetivos no amor, na saúde e nas finanças.
São inúmeros seus sentidos, mas em qualquer deles percebe-se que o trabalho aparece como importante instrumento de mediação entre a pessoa e a natureza e as pessoas entre si. Trata-se do que Hegel (1974) descreveu como a articulação do em-si (o subjetivo), do para-outro (o objetivo) e do em-e-para-si (o reconhecimento do subjetivo no objetivo).