Convite para ler Balzac
No imenso universo de A comédia humana, de Honoré de Balzac, O pai Goriot certamente tem um lugar de destaque — pelo tema, pelas personagens que ali desfilam, pelo cenário e pela precisão. Deliciosa porta de entrada para o mundo balzaquiano.
A Casa Vauquer é uma pensão parisiense de gosto duvidoso habitada pelos mais variados tipos de pessoas. Entre jovens ambiciosos, criminosos fugitivos e outros tipos que circulavam pela capital francesa no início do século XIX, nos deparamos com pai Goriot, um ex-comerciante que enriqueceu vendendo trigo durante a Revolução Francesa, mas perdeu sua fortuna.
De acordo com Paulo Rónai, que organizou a edição da "A comédia humana" publicada pela Biblioteca Azul, este romance está entre as obras mais poderosas de Balzac. Goriot abriu mão de sua fortuna para que suas filhas pudessem ascender socialmente, mas elas, com vergonha da origem da riqueza do pai, apenas o vistam em segredo. Adoentado, infeliz com a ingratidão das filhas, o velho é ridicularizado por seus vizinhos de pensão, que se recuram a crer em sua história.
"O pai Goriot" aborda a ingratidão e conflito entre o pai e as filhas, evocando o drama de "O rei Lear" sob a perspectiva do século XIX. No entanto, o autor usa a pensão burguesa como cenário para intrigas e adultérios, traçando perfis psicológicos das personagens e usando histórias reais como base para sua ficção. Balzac apresenta ao leitor outros personagens marcantes como Rastignac, um jovem que passa por uma iniciação na alta sociedade parisiense e se desencanta com os jogos e vaidades que presencia nos salões da capital.
O romance, considerado uma obra-prima por escritores como Henry James, foi escrito em 1834 e publicado em quatro partes na "Revue de Paris" entre 1835/35 antes de ser lançado em livro. A nova edição pela Globo de Bolso traz este clássico com texto integral e tradução de Gomes da Silveira.