Vivemos em um tempo de resistência ao pensamento. Pensar passou a ser uma ameaça para toda sociedade que não suporta a ideia de conviver com razões esclarecidas e, ao mesmo tempo, um perigo para quem a exerce. Este pequeno livro, O perigo da filosofia, é um convite para que o leitor corra riscos, desbravando, sem medo, o território do pensamento. É um chamado à subversão das sombras, das aparências, dos (pré)conceitos, de toda superstição, de toda dependência servil, convidando-o a experimentar o doce sabor de ser senhor de si mesmo, de ser senhor de uma razão emancipada, capaz de, descolando do chão, alçar voo, contemplar as estrelas. Uma vida que não tem como alvo as estrelas, sequer merece ser vivida. Só por meio do bom uso da razão o homem pode conquistar os afetos positivos, os únicos capazes de conduzi-lo ao estado de alegria e de felicidade. Entretanto, essa é uma conquista arriscada e perigosa. Desde as origens da filosofia, todos aqueles que se dedicaram a sua tarefa, com raras exceções, colocaram sua liberdade, quando não a sua própria vida, em risco. Para o bem da humanidade, apesar de todos os perigos, o homem permaneceu no front, não renunciou ao seu inalienável direito de exercer o pensamento. Abdicar-se desse direito seria renunciar a sua própria humanidade, renunciar a sua dignidade, bestializando-se. Suprimir o direito de o homem pensar é um dos mais perversos crimes, não só contra o homem, mas contra a própria humanidade. De forma pedagógica, sem intenção de investigar as configurações internas dos sistemas filosóficos, num voo panorâmico, voltamos o nosso olhar para Sócrates, Platão, Aristóteles, Teócrito, Étienne de La Boétie, Descartes, Maquiavel, Hobbes, Spinoza, Rousseau, Kant, Hegel, Nietzsche, entre outros, indicando como eles, mantendo suas distintas tramas conceituais, têm em comum um mesmo objetivo: construir uma razão livre, esclarecida, emancipada... Espera-se que o leitor, inspirando-se nos caminhos percorridos por esses mestres da suspeita, sem nenhuma bengala, sem alienar-se a um outro ser qualquer, possa, também ele, ser senhor dos seus próprios passos, percorrer seus próprios caminhos, delirar seus próprios delírios, conquistando, em seu percurso emancipatório, o direito de deflorar florestas virgens...