"Me olharam com pavor e certa esperança". Esta e outras intervenções do médico-escritor Gerson Salvador deixam claro que o que será lido aqui é a própria matéria viva da qual se faz qualquer arte: o humano das relações e nosso constante trânsito pelo medo e pelo lançar-se contra ele.
Com isso consegue o escritor escapar ao ostracismo do jargão profissional e de uma leitura para entendidos e aproximar-se dos muitos personagens que transitam por essas páginas, tipos humanos, familiares, que despertam algum reconhecimento e nos dizem que nossas histórias pessoais também importam.
Na leitura de 'O pior médico do mundo', acompanhamos não uma trajetória, mas várias, desde o processo de formação de médicos ao questionamento dos próprios quanto aos limites de sua atuação e capacidade de dar esperança. Esta, por vezes vem de vozes humildes, de outras histórias e trajetórias, de quem olha nos olhos daquele que está para olhar e o faz enxergar além, numa epifania em que cura, curado, e curador trocam constantemente de papéis.
Assim, este livro não se reduz à arte de narrar histórias breves, o que já lhe garantiria grandes méritos. É ele, sobretudo, um livro de ideias e de reencontros, de questionamentos e de elucidações, do ato de perder-se e do próprio reencontrar-se.