O conjunto de textos de O Poder Simbólico enuncia, assim, um modo de analisar o social - uma teoria da prática, que deve ela própria ser encarada como um ofício -, associado sempre ao estudo de casos concretos. Estes exemplos sugerem um método que vai ao encontro de muitas das preocupações epistemológicas que o autor enunciou nas entrevistas com Raphael e Chartier, e no diálogo com este último e Darnton, a propósito da história cultural. Desenha-se assim a proposta de uma ciência social integrada, assente, em primeiro lugar, numa crítica histórica às próprias categorias do conhecimento. A sugestão de novas categorias, sínteses e métodos de análise, servida por uma pluralidade metodológica que evita todo o tipo de modismo escolástico - promovido pelos campos segmentados e por aqueles que beneficiam material e simbolicamente de uma tal segmentação - procura criar o que Bourdieu, na "Introdução a uma sociologia reflexiva", designa como constituindo um "novo olhar". De facto, só um novo olhar pode sustentar um projecto alicerçado na pesquisa, onde o tratamento estatístico se articula com a monografia e o estudo de caso, e onde se resolvem tantas antinomias tidas como adquiridas, mas no fundo mero produto de enunciações artificiais ou derivadas de modelos pré-construídos.