Cai a cortina preta e da coxia brilha Mirian de Carvalho. Ela nos brinda com o seu O POEMA E A MÁSCARA, um conjunto de monólogos, solilóquios e diálogos que são a consagração de uma poeta plena, com língua afiada e sangue nas veias. Da agrura do confinamento que nos foi imposto pela pandemia ao mergulho em um diálogo entre a BALEIA E O MAR, passando por referências a Thiago de Mello e a Edgar Allan Poe, a autora, sem pudor, arranca a máscara de terríveis rinocerontes, de hienas e até a sua própria através de Narciso.Unindo partes desse livro, à revelia da autora, surgiria um novo poema: "A escrita me salva do isolamento. E, diante da luz, a morte não tem vez. Sou dona do meu corpo. Reivindico o direito de me despojar das roupas e dos preconceitos. Porque, dentro de mim, um vulto de espumas se eleva marejando oceanos." E pelos tempos passados assim avança o tal rio; correm no tempo e nas águas o sangue dos torturados. A poesia pode falar a todos quando ela entra no teatro do mundo para sujar dizeres, versos e sentidos comuns aos humanos. Ouçamos o poema. Entremos em cena.Aqui você verá, sim, poemas de resistência, mas, no anúncio de seu Auto da Libertação, Mirian de Carvalho dá início a um processo de reconstrução e convoca aqueles que caminharão ao nosso lado, de Graciliano a Chiquinha Gonzaga, de Madame Satã a Hilda Hilst, de Raoni a Neruda; Porém, muito além de uma necessária obra de resistência, nos versos de Mirian de Carvalho aqui contidos você encontrará uma deslumbrante e amorosa louvação à reexistência.Marcelo Brettas