Fazendo jus ao título, este livro é um pequeno mosaico das vivências do autor no exercício de seu voluntariado, na Associação Comunitária da favela Monte Azul, localizada na zona Sul da cidade de São Paulo. Por mais de vinte anos sua função era de ouvir os moradores, auxiliando-os na solução de seus problemas jurídicos. Com o passar do tempo, a função do plantão jurídico, como era chamado, ampliou-se, transformando-se em um local onde as pessoas podiam falar, livremente, de seus problemas pessoais. Foram anos e anos passados pelo autor ouvindo estórias, participando de fatos, convivendo com aquela gente sofrida, em meio à miséria, à lama, mas que, apesar de toda a adversidade, que é diária, luta para manter sua dignidade. Alguns conseguem, outros sucumbem. Esta obra nada mais é de que um pálido retrato da vida dessas pessoas, basicamente, pela voz delas mesmas, sem pieguice, sem sentimentalismos, mas respeitoso. Como diz o prefácio, “Os relatos são desprovidos de ilusão: também as fraquezas inerentes ao ser humano são descritas com AMOR e compreensão, sem julgamento.” São estórias curtas, independentes entre si, tristes algumas, outras até com alguma graça, mas todas mostrando um recorte da realidade das periferias brasileiras. Voltando ao prefácio: este livro “é uma revelação do humano no meio da lama de uma favela”, sem deixar de ser belo, como se vê no texto de Julieta Bertazzi. Impossível ler este livro sem se emocionar.