O teatro de Gertrude Stein é novo em muitos sentidos. Em primeiro lugar, as 18 peças reunidas neste livro são consideradas pelos teóricos do teatro pós-dramático , o teatro de hoje , como modelos que ainda precisam ser mais bem explorados pelos leitores e encenadores. Em segundo lugar, é a primeira vez que sai no Brasil uma obra que reúne todas as peças que a autora escreveu entre 1913 e 1920, um período particularmente fértil em experimentações com a linguagem. Avessa a criar tramas e personagens, como já se sabe, Gertrude Stein dedicou-se a inventar estruturas linguísticas. O seu ?estilo? se tornou tão fundamental que, nas suas peças, suplantou definitivamente os ?temas?, como bem observou Richard Kostelanetz. Por isso, nas criações da dramaturga norte-americana, as palavras se tornam sempre objetos autônomos, ou seja, são elas mesmas e não símbolos de alguma outra coisa. O leitor deverá, assim, durante a leitura das peças, dedicar especial atenção às palavras, sem se preocupar muito com o conteúdo.O teatro de Gertrude Stein é um espetáculo verbal. A própria artista disse certa vez: ?A linguagem é uma coisa real, não é uma imitação dos sons, das cores ou das emoções.? Como recreação intelectual, as palavras de Stein soam muito estimulantes e divertidas, o seu saboroso nonsense é capaz de arrancar gargalhadas, dando origem a ótimas performances, a ótimas peças de teatro. De teatro pós-dramático, bem entendido, do qual não podemos mais fugir, pois é uma das formas artísticas do nosso tempo, forma já delineada nas primeiras décadas do século passado por essas 18 peças.