Se a música clássica tradicional já costuma oferecer assunto e diversão para poucos, a chamada música erudita contemporânea sofre discriminação ainda maior. Outras manifestações artísticas do nosso tempo, como os quadros de Picasso ou os do norte-americano Jackson Pollock, valem hoje centenas de milhões de dólares, e não seria difícil topar com a poesia de T. S. Eliot, por exemplo, no Fantástico. No campo da música, porém, a produção erudita do século XX vem causando desconforto pelo menos desde a Sagração da primavera, de Igor Stravínski.
O curioso é que, na verdade, a influência dessa música aparentemente inacessível permeia há tempos manifestações artísticas bem mais populares, como as trilhas sonoras de Hollywood, o rock, o pop, o jazz e a dance music, do já lendário Velvet Underground até a islandesa Björk, passando pela música de Ornette Coleman.
Em uma narrativa envolvente, de interesse tanto para o especialista como para o leigo, O resto é ruído conduz o leitor por esse labirinto da música contemporânea, buscando elucidar os contextos social e político que lhe deram origem. Crítico brilhante, Alex Ross nos leva da Viena do início do século até a Paris dos anos 1920; da Alemanha de Hitler e da Rússia de Stálin à Nova York dos anos 60 e 70, mesclando o erudito e o popular, a música e a política de um século tão fecundo quanto conturbado.
O resultado, mais do que uma história da música, é uma leitura da história do século XX por intermédio da música que ele produziu. Resultado, aliás, saudado com a indicação de Ross para o prêmio Pulitzer de 2008 e para o prestigioso Samuel Johnson Prize. Considerado um dos melhores livros de 2007 pelo New York Times, pelo Washington Post e pela revista The Economist, O resto é ruído foi vencedor dos prêmios National Book Critics Circle Award (2007) e Guardian First Book Award (2008).