O Ritual dos Pastores é um romance diferente. Em primeiro lugar, porque trata da vida, sentimentos e evolução do Guigo, um menino “diferente”, desde os três até os doze anos. Contudo, pela ligação entre o passado do menino e o presente do narrador (Rodrigo), conhecemos sua vida até o início de sua terceira idade. A “homossexualidade infantil” é apenas um dos temas do livro: na verdade, a obra seria sobre a “sexualidade”, simplesmente; esse assunto funciona como uma linha mestra a envolver outros temas, tão, ou mais, importantes. Por exemplo, como o Rodrigo-Guigo procura entender-se e a entender seus familiares, narra ele também suas vidas e analisa suas características psicológicas, começando essa inspeção com a chegada dos açorianos ao Rio Grande do Sul no séc. XVIII, dos quais se originou sua família. As idas e vindas ao passado são feitas com grande maestria, pois fica claro como a História influencia nossas vidas, nosso dia a dia e nossa psique. Por isso, O Ritual dos Pastores poderia também ser considerado um “romance psico-histórico”, porquanto nele está grande parte da História do Brasil, de 1750 a 2000. Finalmente, o tema central do livro poderia ser considerado o fato de que tudo passa e que aceitar profundamente a passagem do tempo é a única forma de sermos felizes. Rodrigo comenta: “a realidade, como a meninice, são fatos passageiros”. Com efeito, o próprio prestígio e o poder da família do Guigo também estarão sujeitos a essa realidade tão evidente quanto dificilmente aceita: tudo termina. Escrito em um português leve e saboroso, apesar dos percalços do Guigo, o livro é marcado por plena aceitação do passado e do presente e perfeita esperança diante do futuro.