Debaixo dos seus passos, a neve estalava. O vento glacial que soprava das montanhas chicoteava seus rostos. Ao longe, um bando de corvos levantou vôo, desaparecendo como um espectro na fraca luz crepuscular.
— Está na hora de encontrar um abrigo, disse o mais velho dos dois viajantes, ofegante, tentando em vão se proteger com seu paletó esfarrapado do frio cortante. — A noite está chegando.
— Sim, a noite está caindo sobre a França!, respondeu o jovem de cerca de vinte anos, vestido com um hábito trapista e carregando um rosário de grandes contas de madeira.
— Bobagem! rosnou o velho esfarrapado, lançando-lhe um olhar rabugento. — A noite desce em todo lugar, não apenas sobre a França. Antes de chegarmos a Lyon, não será possível enxergar a mão diante do rosto.
O jovem não respondeu; seus lábios se moviam imperceptivelmente enquanto os dedos da mão direita mexiam no enorme rosário.
— Que companheiro de viagem enjoado! Nunca vi alguém tão difícil de conversar!, resmungou o velho, irritado. — Preciso arrancar cada palavra dele com esforço. Deve ter sido de um convento muito faminto, aquele que o expulsou dos santos frades. Poder-se-ia soprar o Pai Nosso por entre suas bochechas magras. Ele queria rir, mas foi interrompido por uma tosse cavernosa como a de um cão. — Está tudo podre aqui dentro, exclamou, batendo no peito ofegante com o punho cerrado.
E novamente seguiram em silêncio.