Joan DeJean revela a origem do conceito de conforto na sociedade ocidental ao analisar uma série de inovações surgidas capital francesa durante os reinados de Luis XIV e Luis XV. Em O século do conforto, a autora mostra como “a vida voltada para o conforto de hoje é um fenômeno com poucos precedentes na história ocidental”. A pesquisadora relata como o lar moderno tomou forma, com a atual disposição dos cômodos, a invenção do sofá, da água corrente, entre outras invenções. Segundo ela, arquitetos, antigos artesãos e os habitantes da Paris dos séculos XVII e XVIII criaram a planta baixa das residências e projetaram nosso modo de viver nelas. “Foi nessa cidade e nessa época (1670 – 1765) que o conforto e a informalidade emergiram como prioridades em domínios que variavam da arquitetura e da moda ao design de móveis e à decoração de interiores”, afirma DeJean. Hoje é difícil imaginar uma sala de estar sem sofá. Quando no século XVII surgiram os primeiros sofás de que se tem notícia, o resultado foi uma reelaboração radical do espaço interior. Símbolo de uma nova era de informalidade e conforto, o sofá surgiu em uma época conhecida como a era de ouro da conversa. Como o primeiro móvel planejado para duas pessoas sentarem juntas, também era considerado um convite à sedução. Nesse mesmo período houve outras mudanças nos espaços internos que hoje consideramos óbvias, como se sempre tivessem existido: quartos de dormir, banheiros e sala de estar. Nada disso teria acontecido sem um grupo de visionários – arquitetos lendários, os primeiros decoradores de interiores e as mulheres que moldaram os gostos de dois sucessivos reis da França: a marquesa de Maintenon, amante de Luís XIV, e marquesa de Pompadour, amante de Luís XV. Daí em diante, suas ideias revolucionárias teriam influência direta até mesmo em áreas não domésticas, do vestuário à literatura, assim como nas questões de gênero, modificando a maneira como as pessoas viviam e se relacionavam.