O SILÊNCIO ANTERIOR

Narciso se ampara no domínio da forma curta e cortante para construir um livro que instiga a leitura e a releitura. Roberto Pompeu de Toledo, em seu texto para a orelha do livro destaca que Narciso trava um diálogo consigo mesmo, que por sua vez se desdobra em diálogo com o mundo. Concomitantemente a isso, 'O insistente pano de fundo do sofrimento e da percepção da finitude é temperado, com frequência, pela ironia, e o golpe se faz sentir mais forte', completa. Os golpes aplicados pelos poemas - aparentemente inofensivos - de Narciso atingem o leitor com susto luminoso das epifanias, evidenciando que a sua poesia não é apenas da ordem do passatempo, mas também um modo de tratar as experiências de vida. Para Ram Mandil, professor adjunto da Faculdade de Letras da UFMG, 'José Narciso faz parte de uma linhagem importante da literatura, aquela composta por médicos que se viram tomados pela urgência de escrever'. Extraímos um ponto em comum entre o exercício da medicina e a prática da poesia - o trato com as palavras. Nesse livro, é esse trato que circula entre o poeta e o leitor, entre o médico e o paciente, mas elevado à potência de silêncio - o silêncio anterior.