O SORRISO DE SERAPIÃO (E OUTRAS GARGALHADAS)

Após experimentar em diversos gêneros literários, o escritor e ator Antonio Calloni retorna aos contos em seu quarto livro. O Sorriso de Serapião (e Outras Gargalhadas) reúne doze pequenas narrativas nas quais o autor define de forma precisa o seu original estilo de escrita e exibe sua habilidade para criar uma série de personagens memoráveis. Calloni remexe impiedosamente na miséria e na mediocridade cotidianas, mostrando que essas “outras gargalhadas” indicadas no subtítulo são apenas uma grande ironia que serve como cartão de visitas para uma obra inspiradora. Na história que dá nome ao livro, Serapião, “cabeça chata e um sorriso furado pela ausência de dois dentes superiores”, vive em uma eterna busca por sua amada Amaralina entre as paredes e os andaimes de uma selva de pedras. Perambulando em meio a lembranças de uma infância miserável e projeções incertas de um futuro, Serapião e seu inseparável “sorriso em preto e branco, janela para algum lugar vazio e feliz”, não encontram meios de fugir de uma patética realidade. O autor é capaz de unir em um mesmo conto imagens e sentimentos extremos que resultam naquilo que Marília Librandi Rocha, Doutora em Teoria Literária, chama no prefácio de “grotesco familiar”. Segundo ela, isso surge nos textos de Antonio Calloni através de “uma imaginação potente que vê, no cotidiano humano, harpias e sereias, faunos e porcos, e que se regala na força dos prazeres terrenos povoados pelo fantástico”. “Antonio Calloni se aproxima do leitor qual um artista naïf”, afirma o premiado ficcionista João Gilberto Noll. “O Brasil que ele revela parece ser, à primeira vista, o da infância histórica do país. Matutos, moças de babado, pífaros – um encanto imemorial aos olhos de quem vê seus quadros/contos a partir do umbigo dos grandes centros urbanos. Mas só à primeira vista. Logo se percebe que este autor, de escrita musical, apresenta mais do que uma reconstituição das tortas relações ‘primitivas’. Pois o que realmente está em questão aqui é uma certa dormência no ato de viver, uma flutuação sem destino aparente, vivida por criaturas à beira de um idílico estado demencial.” O Sorriso de Serapião (e Outras Gargalhadas) é uma confirmação do que a escritora e crítica Olga Savary disse sobre Antonio Calloni: “Sua paixão pela literatura é tão forte quanto a arte de representar.” "Ah! Fino prosador, alçando a nossa miséria à marca exemplar da fábula."João Gilberto Noll