Refluxos do inconsciente Safra poética calcada numa linguagem que funde o erudito e o popular, O tambor subterrâneo explicita um olhar agudo no quotidiano e incorpora uma imersão lírico-crítico-reflexiva de Erorci Santana sobre o vasto mundo existencial. Nessa pluralidade de percepções, o poeta possibilita um trânsito simbiótico pelas paisagens humanas e urbanas, em cujo périplo temporal-psicológico reside a tentativa de compreensão do ser, a partir de suas raízes e referenciais, em que a territorialidade afetiva constitui matéria e circunstância para sua pulsão criativa. Desde Maravilta e outros cantares, Erorci Santana vem mapeando o humano, o social e o político com uma abordagem que recorre ao campo das experiências pessoais e das suas raízes no interior de Minas, lá onde Penha do Cassiano ou Governador Valadares se transformam nas suas míticas Macondo, Komala ou Yoknapatawpha, onde é possível vislumbrar, entre o sagrado e o profano, entre vida & morte, um mosaico surreal que nos comove. Nessa recorrência a ambientes e atmosferas tão lúdicos e bucólicos, mantém-se fiel à dicção e à cultura intrínsecas à sua (con)vivência. As imagens fortes, corroboradas por uma arquitetura verbal sonora e harmônica, esboçam uma carga semântica que investe numa explicação metafórica e numa relação sensorial com os refluxos do inconsciente individual e coletivo. Na via expressa da palavra, o universo tangível intercepta a instância do sensitivo e do onírico, possibilitando ao autor estabelecer um diálogo intenso (e dramático) entre o real, o imaginário e seus íntimos arquipélagos. Realiza um percurso que oscila entre a catarse e o apaziguamento, uma vez que ao visitar a sua/nossa complexa relação com o universo e as pessoas, expõe toda uma inquietação metafísica, em que o susto e as angústia.