O momento atual brasileiro experimenta o fruto incubado dessa cultura do mercado: a condenação à fome e à miséria das maiorias, a bagatelização fascista da vida, o nihilismo agressivo, a indiferença desapiedada, o desmonte de qualquer princípio ético. Podemos dizer, portanto, que vivemos num mundo de coisas vãs, que quer constantemente nos esconder o tanto de sofrimento humano e de sofrimento da natureza que ele exige para poder continuar funcionando. Por isso precisamos dizer com todas as letras: as promessas de felicidade deste sistema são falsas e mentirosas; ele não humaniza e nem realiza de fato as aspirações profundas do ser humano; ao contrário, recria sempre vanidade (vazio) e desumanidade. O conhecimento desligado de uma vontade de humanização gera apenas um saber sem amor e sem sabor. A prática da ciência por ela mesma ou pelo poder que possibilita, desligada da ética e de sua função social, vai apenas tornar o cientista mais insensível e egoísta e fazer outras pessoas infelizes. É nesse quadrante que me sinto honrado em prefaciar esta bela tradução que André Bartholomeu nos oferece do Tao Te King, lido e interpretado por Aleister Crowley, ele mesmo considerado nos horizontes do seu tempo um dissidente, um mago e um crítico social. Exatamente nessas paragens conitivas da pósmodernidade periférica topamos com tais mestres e mestras do passado. Também eles e elas tiveram que fazer face à negatividade de sistemas políticos, econômicos, culturais e religiosos, incorporados em costumes, instituições sociais, ritos e pessoas. Lançamos mão, olhos e coração aos escritos dessas grandes almas indagadoras, porque pressentimos que a sua, não foi uma experiência que povoou apenas o passado, que pertence aos museus da história. Mesmo não se entregando de bandeja à leitura utilitarista e supercial, sua via e seu Tao permanecem hoje mais do que nunca como uma provocação para ser. Como uma lembrança subversiva que incomoda nossa própria experiência, como um apelo que interpela nosso cotidiano. Alberto da Silva Moreira - Professor na PUC Goiás