O Teatro da Natureza , de Marta Metzler, é uma revelação não só da arqueologia histórica de nosso teatro, que as recentes pesquisas acadêmicas têm enriquecido extraordinariamente, como do universo de pensamento estético e artístico que ele desvela vivo na paisagem embaladora do Rio de Janeiro. Na verdade, com o trabalho minucioso que este livro ora editado na coleção Estudos da editora Perspectiva descerra para o leitor interessado na pesquisa cênica, reinserem-se, no processo da realidade teatral brasileira do fim do século XIX e início do XX e na vivência da belle-époque carioca, textos que foram montados, estilos de interpretação que foram desempenhados, músicas que marcaram e sugeriram estados de ânimo e situações dramáticas, cenários e figurinos que deram cor e forma a espetáculos representados perante um público de causar inveja até hoje, com seus dez mil espectadores por sessão. Foi, portanto, um triunfo de uma forma de teatro inusitada, mas que denota a abertura já existente para as novas propostas da modernidade. Obra cênica do ator português Alexandre de Azevedo, em 1916, que realizou no Rio uma encenação de gênero similar àquela apresentada em 1911, em Portugal, ela foi totalmente produzida com atores brasileiros, entre os quais, Itália Fausta, constituindo, em essência, um marco que permaneceu oculto, mas não menos presente, da arte teatral em nosso país.